pt
Passado
a covid-19

A pandemia de covid-19, doença respiratória aguda, causada por um novo coronavírus denominado SARS-CoV-2 (coronavírus da síndrome respiratória aguda grave 2), foi/é um desses fenômenos causadores de um nonsense geral que afligiu fissuras na sociedade. 

Como testemunha de um período limítrofe, e ainda imersa nas mídias sociais, compartilhei/endereçei – privada ou publicamente – angústias, pensamentos e medos a todas e todos que fazem parte da minha comunidade afetiva virtual. Isolada e em quarentena, fora do convívio físico com minha família e amigos mais próximos, foi por meio das plataformas online que mantive intimidade com aqueles que me eram mais queridos. Por meio das telas pude me divertir, me informar, conversar, trabalhar, estudar e, por vezes, chorar. Como muitas e muitos, ocasionalmente busquei mascarar minhas ansiedades com vídeos da Netflix, Youtube (Obrigada Matando Matheus a Grito!!!). Outras vezes, através do WhatsApp buscava apoio com profissionais da saúde, e suplicava aos amigos e familiares: – “fiquem em casa!”, “usem máscara!”.

Em 2020 uma viagem de estudos e turismo se converteu em meses de lockdown e social distance. Eu permaneci de 11 de março a 30 de outubro de 2020 em Londres, Inglaterra, tendo apenas meu namorado como companhia. Meus voos de retorno foram diversas vezes cancelados, e não podendo voltar à minha cidade Porto Alegre/Rio Grande do Sul/Brasil, eu passava dias e noites buscando racionalizar a pandemia, coletando informações atualizadas sobre os dados de contágio em Porto Alegre e Londres: quais as melhores medidas sanitárias? Quantas mortes? Quantas vagas ainda temos nos hospitais? Quais os primeiros sintomas? Qual o melhor modelo de máscara? Profundamente impactada pelo medo de morrer longe, de morrerem longe de mim, a vida tomou novos contornos, e os problemas cotidianos foram redimensionados no cenário pós-apocalíptico. 

No dia em que parecia ser impossível continuar, eu continuava, escrevia meus pensamentos e sonhos em post-its e notas digitais e guardava-os como forma de diário de vivências, um (diário de) campo que ainda estava se compondo. Eu não sabia exatamente que meus pensamentos seriam parte ou não desta investigação. Eu apenas sentia que fazia sentido escrever…. E, assim, decidi que todos meus afetos seriam transformados em pesquisa acadêmica. Portanto, esta tese fala de um trabalho de memória e de resistência  a partir da análise do fenômeno do compartilhamento das memórias traumáticas sobre a covid-19 no Instagram

*
Presente
a pesquisa

O Fenômenos Memória Covid-19 trata-se do produto da tese intitulada: “Fenômenos Memorialísticos Online: cartografia da memória compartilhada da covid-19 no Instagram”. defendida no âmbito do Programa de Pós-Graduação em Memória Social e Patrimônio Cultural da Universidade Federal de Pelotas (PPGMSPC/UFPel).

Aqui você terá acesso à cartografia realizada no contexto mundial e brasileiro. São fenômenos memorialísticos online que registram o cotidiano pandêmico e todos os afetos relacionados à pandemia e ao pandemônio político brasileiro.

Na seção cartografia afetiva você poderá navegar entre o espaço, as conexões e os afetos mapeados sobre as memórias da pandemia.

Na seção dados você poderá acessar o repositório digital no Tainacan – software para gestão de acervos digitais – com todos os 222 fenômenos localizados ao redor do mundo. Filtros auxiliarão você na navegação e na recuperação dos conteúdos.

Na seção referências você poderá acessar o estado da arte e a fundamentação teórica utilizados para a elaboração desta pesquisa.

Na seção contatos e links você pode nos escrever, seja para pedir mais informações ou, se você é um dos militantes da memória/fenômenos memorialísticos cartografados, poderá solicitar a exclusão dos seus dados. Outros links de interesse serão sempre compartilhados e atualizados, então fique a vontade para nos ajudar nessa construção!

* Esta pesquisa teve o apoio da Fundação Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior através da Bolsa CAPES (2021-2023)

Sem os interlocutores, militantes da memória dos fenômenos memorialísticos online cartografados, esta pesquisa não existiria. São a eles os meus agradecimentos mais sinceros: 

Edson Pavoni do @inumeraveismemorial, Indio, João Carlos e Rodrigo Alcântara do @relatosdeumapandemia, Isabelle Borges do @constatacoesdaquarentena, Daniel Viana do @mudiufpel, Eduardo do @janelasdapandemia, Núbia Rodrigues do @devaneiosquarentenados, Lidia Maria do @sonhos_de_uma_quarentena, Camila Antunes do @memoriasdapandemia, Daniele Borges, Claudia Turra, Mateus da Silva e Vitória Lima do @pandemiadenarrativas, Ana Carolina Maciel e João Felipe Ferreira do @memoriascovid19 e Aline Corrêa do @memoriavagalumes.

 

*
Futuro
a política de memória

As narrativas testemunhais fornecem uma visão única sobre a realidade pandêmica brasileira. Fragmentada e controversa, as performances memoriais criadas no Instagram evidenciam novas formas de lembrar, silenciar e esquecer no tempo das plataformas online.

A memorialização da covid-19 que ocorreu em período de isolamento social deu nome, rosto e biografia para os números. Ao mesmo tempo, esses fenômenos questionaram o oportunismo político e o uso nefasto da crise sanitária para fins eleitorais, denunciando as negligências, o descaso e o desespero.

Envolta por medo, angústia, desamparo, luto e esperança, a memória da covid-19 ameaça desaparecer enquanto a normalidade da vida de caráter neoliberal retorna. Corre-se o risco de esquecermos que um dos grandes causadores das pandemias é o impacto do sistema capitalista no desequilíbrio dos ecossistemas. É possível ignorar as mais de 700 mil mortes? As valas comuns? Os hospitais sem leitos? As mentiras?

Para o futuro devemos escrever, memorializar, musealizar e patrimonializar.

Memorializar a pandemia de covid-19 diz respeito a uma política de memória que deve ser levada a cabo não só pelos militantes da memória, membras e membros da sociedade civil organizada. Ela deve ser um projeto de governo comprometido ética e politicamente com a defesa da ciência e do sistema de saúde público e universal.